Secretário confirma ter tomado vacina para “dar exemplo”
O Ministério Público de Minas Gerais abriu inquérito para apurar suspeita de “fura-fila” na vacinação contra a covid-19 dentro da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES). Segundo a denúncia, além dos trabalhadores em saúde que estão na linha de frente de combate à doença, servidores de setores administrativos da pasta estariam sendo vacinados.
O secretário de Estado da Saúde, Carlos Eduardo Amaral, admitiu que foi vacinado contra a covid-19 e afirmou ontem (10), em reunião especial na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que “quis tomar a vacina”, justificando ter recebido a vacina por sua atuação, que inclui visitas a hospitais e, por isso, a importância de ser imunizado, emendando que “me vacinei para dar exemplo”.
Os argumentos foram apresentados pelo presidente da Comissão de Saúde da ALMG, o deputado João Vítor Xavier (Cidadania), que questionou o secretário de saúde Carlos Eduardo Amaral em relação à lista de vacinados no estado.
Na reunião, os deputados solicitaram a lista dos 500 servidores da área administrativa que foram vacinados. Carlos Eduardo afirmou que teria que consultar o jurídico se poderia repassar o nome dos servidores.
O presidente da Comissão de Saúde da ALMG, o deputado João Vítor Xavier, questionou o argumento do secretário. Segundo ele, o não envio dos nomes dos servidores impede o papel da Assembleia de fiscalização.
Entretanto, apesar de confirmar ter recebido a vacina, o secretário negou que tenha ocorrido irregularidades na vacinação emMinas Gerais e tentou justificar os motivos pelos quais servidores da área administrativa da pasta tenham sido vacinados antes de idosos e profissionais de saúde, negando que servidores em home office tenham sido vacinados, o que não estaria de acordo com os grupos prioritários definidos pelo Ministério da Saúde. Amaral disse, ainda, que a vacinação no estado segue as diretrizes do Plano Nacional de Imunização (PNI) e ressaltou que as secretarias de Saúde são prioridade.
O secretário afirmou que o objetivo é enviar 100% de doses para que os municípiosvacinem os trabalhadores da linha de frente. Segundo ele, a pasta só iniciou a vacinação de servidores administrativos, depois de 70% dos profissionais de saúde serem vacinados nos municípios. Ele listou neste grupo médicos, enfermeiros, motoristas de hospitais e educadores físicos. Em Minas, são 53 mil médicos e 30 mil enfermeiros. “Os municípios já têm vacina”, garantiu.
O deputado Cássio Soares (PSD), líder do grupo Minas São Muitas, discordou da justificativa dada pelo secretário para a vacinação de servidores da área administrativa e disse que os servidores da Pasta “são fura-filas sim”.
Projeção – O secretário afirmou que “Minas poderá registrar até cinco vezes mais casos da covid-19 nos próximos dias devido à circulação das variantes do novo coronavírus”.
Um dos principais fatores para o aumento e um novo pico da pandemia de covid-19 de cinco a quatro vezes mais casos da doença do que na primeira onda, cujo pico foi registrado em julho de 2020, de acordo com o secretário estadual da Saúde é a disseminação de novas cepas do coronavírus na região, potencialmente mais transmissíveis.
“De janeiro para fevereiro deste ano, tivemos um pico de casos no Estado e, novamente, estamos tendo aumento, o que tem relação direta com a circulação de novas cepas. Tivemos um pico de óbitos em 27 de janeiro, houve queda significativa e, agora, com aumento de casos, notamos um aumento de óbitos se aproximar”, disse Amaral.
Amaral também pontuou que a taxa de mortalidade pela doença é diferente em cada região do Estado. Na média, Minas registra 92,2 mortes a cada 100 mil habitantes, terceira menor taxa do país. No Triângulo Norte, região onde o índice é o maior do Estado, ela chega a 157,47, maior até que a média nacional, de 126,3. Já a região com menor taxa é o Jequitinhonha, que chega a 25,29. Na região Centro, onde está a capital Belo Horizonte, o número supera o estadual e atinge 92,59.
Uberaba – Em Uberaba existem denúncias de fura-filas e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG) estão investigando. Dia 24 de janeiro o MP enviou um documento para a Prefeitura de Uberaba recomendando, dentre outras coisas, o cumprimento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19 e o Plano de Contingência Municipal de Vacinação contra a covid-19 dentro de dez dias.
Já a DP instaurou Procedimento Administrativo de Tutela Coletiva (PATC), requisitando o Plano Municipal de Operacionalização e Vacinação contra a covid-19, além de solicitar informações específicas e que fosse proporcionada, em plataforma virtual, a participação de instituições, públicas e da sociedade civil organizada, na construção (elaboração ou alteração) do plano de vacinação nos municípios interessados”.
O MPMG e a DPMG fez as recomendações a Uberaba e outros municípios da região, após denúncias de que a fila de vacinação não estava sendo respeitada.
Apesar do prazo de dez dias, a Prefeitura de Uberaba informou por duas vezes à reportagem, em fevereiro, que pediu mais tempo e que as respostas estavam sendo produzidas. A reportagem voltou a questionar a prefeitura, em outras ocasiões e ontem, através da Secretaria de Comunicação, mas até o fechamento desta edição não recebeu retorno.
Fonte: Jornal de Uberaba