Infectologista critica lentidão da vacinação em Uberaba: apenas 33% das doses foram aplicadas
Com 14 dias de vacinação, apenas 33% das doses já recebidas em Uberaba foram aplicadas. As duas remessas de imunizantes destinadas à Secretaria Municipal de Saúde totalizam 14.770 doses, correspondentes à vacinação de 9.095 pessoas. Desse total, apenas 3.081 já haviam sido vacinadas até esta quarta-feira (3), segundo boletim enviado pela Prefeitura de Uberaba à noite.
Para uma cidade com mais de 300 mil habitantes, esse número de imunizados é considerado baixo. Segundo o infectologista Rodrigo Molina, a vacinação em Uberaba segue a passos lentos e essa morosidade impacta diretamente na taxa de contaminação. Isso porque com os números de imunizados na cidade ainda não é possível diminuir a taxa de transmissão, de acordo com o médico. “Esse número é muito pequeno, a gente precisa ter uma parcela da população em torno de 70% para que haja diminuição da circulação viral. Porque enquanto tiver uma pessoa infectada ela vai passando adiante. A partir do momento que nós temos as pessoas imunizadas, hora que elas entrarem em contato com o vírus, já diminui essa cadeia de transmissão. Por isso que é importante tentar utilizar a plenitude do município de uma forma mais rápida possível. Claro que depende da chegada das vacinas, então não depende só da estratégia local, mas aí o local já deve estar todo alinhado para, ao receber todas essas doses que vão chegando de pouco em pouco, já rapidamente começar a distribuir e ir atingindo os grupos necessários. Mas nós não conseguimos nem terminar o grupo prioritário, então esse é o problema”, aponta o especialista.
Para o infectologista, o primeiro grupo prioritário a ser vacinado deveria ser dos médicos, incluindo aqueles da linha de frente e os que atuam em clínicas e consultórios que também recebem pacientes contaminados, uma vez que a doença pode aparecer de forma assintomática. Molina ainda contesta a ineficiência do Plano Municipal de Vacinação, que falha ao deixar grande número de profissionais de saúde expostos à doença.
“Os profissionais da saúde não foram vacinados e aí eles estão pensando em profissionais da saúde que estão na linha de frente. Só que também tem os profissionais da saúde de consultórios, de clínicas que estão recebendo pacientes com sintomas e a gente não testa isso em clínica e consultório. Então esses profissionais de saúde acabam sendo expostos e, por demanda, podem acabar transmitindo. Então o certo era terminar (a vacinação) com os profissionais de saúde e depois passar para o segundo grupo prioritário”, declara o infectologista Rodrigo Molina.
À reportagem, a assessoria de imprensa da PMU rebate a sugestão, reafirmando que a vacinação em Uberaba segue o planejamento do governo federal. “Estão sendo vacinados os grupos previstos no Plano de Imunização do Ministério da Saúde. A equipe da Central de Vacinas é ampla e está atendendo diversas frentes da vacinação, assim, tem uma equipe que está atendendo os idosos, nas casas asilares e outra equipe atendendo os profissionais da saúde. Todos já previstos para receber a vacina”, diz a nota.
“O critério da Prefeitura tem sido de seguir as recomendações do Ministério da Saúde, que informa no Plano de Imunização a ordem de prioridade dos profissionais de saúde, de acordo com o serviço que eles executam frente à pandemia. Reforçando que, conforme novas remessas cheguem, o intuito é que todos os profissionais que estão na linha de frente sejam vacinados”, complementa a assessoria de imprensa da administração municipal.
Na opinião de Rodrigo Molina, Uberaba poderia estar bem à frente na caminhada rumo à imunização da população. “O ritmo está muito lento de vacinação. Pensando que alguns municípios do mesmo porte de Uberaba que receberam a mesma quantidade de vacina já rapidamente criaram estratégias para vacinar uma grande parcela da população, já totalizando a maioria dos profissionais da saúde nós estamos muito lentos. Poderiam ter sido vacinados… as pessoas deveriam ter sido vacinadas nos finais de semana, feito mutirão de vacinação. A nossa estratégia está ruim, o número de vacinados é pequeno pra quem já tem praticamente duas semanas. Já era pra ter esgotado essas vacinas. Então isso é um impacto que a gente não vai tendo, uma parcela da população imunizada, que é o que vai diminuir a taxa de transmissão”, avalia Molina, que cita, ainda, cidades próximas a Uberaba que já trabalham com plano delineado de vacinação, como Uberlândia e Ribeirão Preto.
Essa baixa quantidade de imunizados também se dá pela quantidade de vacinas recebidas do Governo Estadual. Questionada, a Prefeitura descartou a realização de mutirões. “Devido à quantidade de doses encaminhadas para Uberaba pela Secretaria de Estado, não seria viável a realização de um mutirão de vacinas”.
Mas, ainda de acordo com o infectologista, mesmo com o baixo número de doses enviadas é preciso ter uma estratégia bem definida no município. O secretário de saúde Sétimo Boscolo considerou um erro estratégico a decisão de vacinar apenas os idosos nos asilos, um dos grupos prioritários definidos pelo Ministério da Saúde. Contudo, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Uberaba, em nota enviada à reportagem, restringiu-se a explicar que “essa foi uma decisão estratégica no momento que a decisão foi tomada e apenas uma remessa de vacina tinha sido enviada para Uberaba. Naquele momento optou-se por vacinar a prioridade dentro da prioridade”, sem explicar motivos que embasaram tal opção.
O especialista ainda pondera sobre a criação de um recurso para cadastramento da população, que, na sua avaliação, já deveria estar em pleno funcionamento, uma vez que impacta também a falta de orientação sobre quando a população em geral será vacinada. “Mas eu não estou vendo em Uberaba, no site da Prefeitura, nada de fazer cadastro, orientar as pessoas para que a Prefeitura tenha o número dessas pessoas para que depois eles possam ser convocados igual Uberlândia tem feito, igual Ribeirão Preto, igual Franca. Lá eles fazem o cadastro das pessoas, até mesmo para tranquilizar a população de quando elas poderiam ser vacinadas”, opina.