Especial 203 anos: SANTA RITA, A IGREJINHA DOS PRIMEIROS TEMPOS
Quem sai da praça do Mercado e ergue os olhos para a colina que circunda o centro velho de Uberaba não tem como ignorar a imagem da igreja centenária que orna aquele espaço. Estamos falando da Santa Rita, a igrejinha charmosa construída em 1854 e tombada pelo Patrimônio Artístico Nacional em 1939, que até os dias de hoje é o único bem a merecer tal reverência em termos nacionais no Triângulo Mineiro. Hoje, a igreja divide seu espaço com atividades do Museu de Arte Sacra, mas também é onde ainda são realizadas missas e os festejos da Santa das Causas Impossíveis
A construção da Igreja Santa Rita, conta o artista plástico Hélio Siqueira, coordenador do Museu de Arte Sacra, veio do infortúnio do advogado Cândido Justiniano da Lira Gama, devoto de Santa Rita, que convivia com o vício devastador do alcoolismo. Justiniano decidiu prometer à santa que, se conseguisse livrar-se daquele sina, ergueria uma igreja em sua homenagem. Assim foi feito, largou a “marvada pinga” e investiu muitos contos de réis na obra que legou um dos símbolos mais importantes de Uberaba e do Triângulo Mineiro.
Conforme Siqueira, “os historiadores são unânimes em dizer que o período de maior prosperidade de Uberaba no século XIX se deu entre 1820 a 1859. Foi nessa época que a localidade, vencendo as etapas de dificuldades de sua fundação, alcançou as prerrogativas de vila e cidade. Neste ambiente de comércio intenso e desenvolvimento constante, sob a proteção de seus padroeiros São Sebastião e Santo Antônio, a fé do povo se expandiu e mais uma capela foi erigida, dedicada a Santa Rita das Causas Impossíveis”.
possíveis”. A singeleza da construção começou a sofrer com a implacável ação da natureza por volta de 1877, quando foram providenciados reparos pelo negociante Major Joaquim Rodrigues de Barcelos. Este também fora atendido por Santa Rita em seu pedido de se tornar pai. Em 1881, os padres dominicanos se estabeleceram em Uberaba, realizando sua catequese na igreja de Santa Rita que, já naquela quadra da sua história se tornou pequena para tantos fiéis.
Com a inauguração, em 1904, da imponente Igreja de São Domingos os rituais sagrados passaram para esta e a “igrejinha” de Santa Rita ficou fechada ao culto religioso durante muitos anos. Mais uma vez, então, a ação do tempo cuidou de degradá-la. Enquanto outras igrejas mais imponentes eram construídas na cidade, a de Santa Rita achava-se em ruínas. Mas, por volta de 1939, Gabriel Totti requisitou e conseguiu do recém-criado Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o título de Monumento Histórico para a graciosa construção
“A Igreja de Santa Rita, pela sua singela beleza, tornou-se ponto obrigatório de visitas e, ao longo de sua história, motivo de inspiração de pintores, poetas e fotógrafos – Anatólio Magalhães, José Maria dos Reis Júnior, Almeida Carvalho, Genesco Murta, Ovídio Fernandes e Hélio Siqueira pintaram muitas vezes e em muitos estilos o monumento aninhado na impotente colina, tendo como pano de fundo um rico paredão verde. Em ruínas ou restaurada, fotógrafos como o imigrante Ângelo Prieto e tantos outros exploraram a sensibilidade para registrá-la e guardá-la como documentos para a prosperidade”, escreveu Hélio Siqueira
O ACERVO DO MUSEU DE ARTE SACRA O Museu de Arte Sacra foi inaugurado em 11 de maio de 1987, com o empenho do arcebispo metropolitano de Uberaba à época, dom Benedito de Ulhôa Vieira, e da Cúria Metropolitana, somados à atuação do então diretor da Fundação Cultural de Uberaba, Jorge Alberto Nabut. O acervo, rico em peças barrocas dos séculos XVIII e XIX, conta a história da Igreja Católica na região. Muitas peças são provenientes de doações da Cúria Metropolitana, sobressaindo-se as seções de vestes sacras, estandartes de procissões, paramentos, alfaias, imagens e mobiliário. Um dos exemplos de seu valioso acervo é o Conjunto de Casula feito com tecido bordado com linha e fios de ouro, proveniente da França em 1909.
Depois de um longo período em que ficou fechada para restauração do local, a igreja retomou suas atividades normais, desta vez com um novo projeto para o acervo de obras sacras, com exposições temáticas. Após a restauração do prédio, o museu ficou fechado por um tempo para reorganização e limpeza do acervo. Retornou com funcionamento de terça a sexta-feira, das 12h às 18h. Nos fins de semana, das 8h às 12h.
Entre as peças do acervo está a escultura em madeira policromada de Santa Rita de Cássia, ou Santa Rita das Causas Impossíveis para os mais devotos, sendo a única imagem que restou da capelinha original, erguida por Cândido Justiniano da Lira Gama em 1854. A base da imagem foi refeita após a criação do Museu de Arte Sacra, seguindo o modelo original apodrecido. No ano de 2003 a imagem foi restaurada.
Recentemente, a igreja passou por reforma e instalação de uma cerca ao redor da igreja, realizada pela Casa do Artesão com incentivos de empresas da cidade, por meio da Lei Rouanet. O orçamento total do projeto de restauração do prédio foi de aproximadamente R$ 770 mil. A Fundação Cultural informa que todos os meses os fiéis podem se preparar para a missa em louvor a Santa Rita, sempre no dia útil mais próximo do dia 22, às 18h30. A celebração é realizada pelo pároco da Paróquia de São Domingos. “ Pela sua singela beleza, a Igreja tornou-se motivo de inspiração de pintores, poetas e