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Especial 203 anos: IGREJA DO ROSÁRIO, O TEMPLO DOS PRETOS

Ao tempo do Império, o comum era começar a formação de um vilarejo com a construção de duas igrejas. Uma, claro, para os brancos e a outra para os negros, incumbidos de erguer seus próprios templos, começando por aí o caminho de “purificação da alma”. Assim nasceu a Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Uberaba, erguida por escravizados e aberta aos cultos em 1841.

O jornalista e pesquisador Luiz Alberto Molinar registrou em arquivo da Fundação Cultural importantes dados levantados por ele sobre este templo simbólico de um regime social e suas nuances. Em contraponto à “Igreja dos Pretos”, como era chamada, foi erguida no Largo da Matriz (hoje, Praça Rui Barbosa) a igreja dos brancos, onde estavam evidentemente o primeiro povoamento, as primeiras e principais mansões, a concentração do comércio e os prestadores de serviços.

A Igreja dos Pretos localizava-se três quadras à frente, em área afastada do burburinho desse primeiro núcleo urbano. Era estabelecida no chamado Alto do Rosário, o agora bairro Estados Unidos, e foi erguida bem no Largo do Rosário (hoje avenida Presidente Vargas), no meio do morro e com a sua frente direcionada para o final da então rua do Comercio (rua Artur Machado dos dias atuais).

Com o surgimento da Igreja de Santa Rita em 1854, encomendada pelo advogado Cândido Justiniano da Lira Gama, a três quarteirões da Igreja do Rosário, e 50 anos antes da Igreja São Domingos, o santuário do povo preto começou a perder freqüentadores. O comando da Igreja Católica deixou de mantê-lo, provocando sua decadência.

O início da operação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em Uberaba a partir de 1889 (um ano após a abolição da escravatura), com a estação instalada no alto da rua do Comercio, levou à urbanização do entorno da Igreja do Rosário, mas ela se encontrava-se ruínas. O então agente-executivo (prefeito) Leopoldino de Oliveira se viu obrigado, então, a propor a demolição do templo.

DERRUBADA POR DESINTERESSE E “TROCADA” PELA DE SÃO BENEDITO

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi derrubada em 1924 por desinteresse em sua manutenção por parte da Igreja Católica, apontam os registros históricos. Como estava em ruínas, uma restauração completa seria dispendiosa. Nos últimos anos de sua existência, abrigava somente a comemoração do Dia da Abolição, o 13 de Maio, conforme relato do memorialista e religioso católico Carlos Pedroso.

A Presidente Vargas passou a ter passeios largos. Em meados do século 20, uma ilha foi construída, com jardim e palmeiras imperiais. Desde 2006 há no local um monumento em reverência a Zumbi dos Palmares, lembrado no Brasil como líder do Quilombo dos Palmares e considerado por muitos um símbolo da luta abolicionista.

A história das igrejas uberabenses reserva um outro capítulo interessante. Como forma de se integrarem melhor à sociedade da época, descendentes de sírios e libaneses propuseram à Cúria Metropolitana ajudar a edificar a Igreja de São Benedito, outro santo de devoção por povos de descendência africana. Para os pesquisadores, seria uma forma de compensar a demolição da Igreja do Rosário

O local escolhido foi a antiga Praça da Bandeira (hoje, Dr. Jorge Frange) e a inauguração ocorreu em 1961, 34 anos após a derrubada da Igreja do Rosário. Uma nova edificação foi implantada no local em 1978, em formato circular, substituindo a primeira, de arquitetura tradicional.

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