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Especial 203 anos: SETE HOMENS E UM DESTINO NA HISTÓRIA DE UBERABA

Chamado de “o fundador de Uberaba” por Guido Bilharinho no livro “Personalidades Uberabenses”, 2014, Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira (Major Eustáquio) nasceu em Ouro Preto (MG), em 1770, e morreu em Uberaba, em 6 de fevereiro de 1832. Entre suas realizações, destaca-se a elevação do “Arraial da Farinha Podre” a freguesia (Hildebrando Pontes, “Vida, Casos e Perfis”, p.80), em 2 de março de 1820, após requerimento neste sentido.

Bilharinho segue contando: “(…) a teor do relato feito a Hildebrando Pontes pelo capitão Manuel Prata (Manuel Joaquim da Silva Prata), falecido em 1905 aos 97 anos de idade e que conviveu treze anos com o major, este ‘era de estatura mediana, cabelos louros, olhos azuis, voz quase rouca, trajava calções de veludo, meias compridas, sapatos de fivelas de ouro e prata, casaco à Luís XV, capa, espada e chapéu armado’, apresentando-se por vezes ‘fardado com a banda e dragonas’, usava a barba feita e gostava de caçadas (…)”.

Em cerimônia celebrada pelo vigário Silva, casou-se com Antônia Angélica de Jesus, com quem não teve filhos, deixando, porém, três filhos naturais (Valeriano, Francisca Maria e Sebastiana Maria). Descendia – como seus irmãos, capitão Domingos da Silva e Oliveira, primeiro agente-executivo da vila de Uberaba, e Joaquim da Silva e Oliveira – de João da Silva Oliveira (João Silveira de Távora, em Portugal).

Frei Eugênio Maria de Gênova, conforme Antônio Borges Sampaio (Uberaba: História, Fatos e Homens, p. 170), nasceu na cidade de Oneglia, província de Gênova, em 4 de novembro de 1812, sendo batizado com o nome de João Batista José Maberino. Foi ordenado em 1836.

Em 1842, foi nomeado pregador apostólico para o mundo inteiro. Nessa condição, por determinação do papa Gregório XVI, chegou ao Rio de Janeiro em 19 de julho de 1843 como missionário capuchinho. Dois anos depois, foi para Mato Grosso. Depois, dirigiu-se a Minas Gerais. Estava em Pitangui quando foi convidado a pregar em Uberaba. Chegou a Uberaba em 12 de agosto de 1856, onde ficou até sua morte, em 15 de junho de 1871. Segundo Borges Sampaio, que com ele conviveu por muitos anos, Frei Eugênio tinha “gênio empreendedor”.

Foi responsável pela construção do cemitério São Miguel, ocupando toda a área da atual Praça Frei Eugênio, com 15.018,5 metros quadrados. Construiu também um hospital, consumido por incêndio em 1921. Planejou a ponte sobre o rio Grande para ligar São Paulo a Minas, além de planos para canalizar as águas do rio Uberaba pensando no abastecimento da cidade. À parte a polêmica suspeita de ter tido escravo, Frei Eugênio negou firmemente. Há, por outro lado, relato de milagres a ele atribuídos.

O médico José de Oliveira Ferreira Filho nasceu em Uberaba, em 1864, filho de pais portugueses, aqui falecendo em 1951. Segundo José Mendonça (História de Uberaba, p. 169) e José Soares Bilharinho (História da Medicina em Uberaba, vol. I), José Ferreira iniciou seus estudos aos cinco anos de idade na escola Guaritá, do professor Luís Guimarães Guaritá, transferindo-se, posteriormente, para a escola do professor Manuel da Rosa Terra.

Aos dez anos já lia francês e latim. Depois de ter estudado alguns meses em Franca (SP), frequentou e concluiu os estudos ginasiais no liceu Uberabense (o primeiro). “Sua capacidade de memorização permitia-lhe dizer a localização de cidades de qualquer país” (Bilharinho, 2014). Cursou a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro de 1382 a 1887. Em maio de 1887, estabeleceu-se definitivamente em Uberaba. Foi o segundo uberabense a formar-se médico, segundo levantamento de José Soares Bilharinho.

É chamado de “O Visconde de Mauá de Uberaba” pelo historiador Guido Bilharinho (2014), por “coincidência de determinadas iniciativas” ligadas à iluminação pública, linha férrea, atividades bancárias e pastoris. Em 1904, foi um dos criadores da Companhia de Força e Luz de Uberaba, composta por 30 sócios. Dedicou-se à pecuária, participou da criação do Banco de Uberaba e atuou também como político e jornalista.

Nascido na província de Beira Alta (Portugal), em janeiro de 1827, órfão de pai e mãe, vitimados pela cólera-morbo, aos dezesseis anos de idade Antônio Borges Sampaio resolveu tentar a vida no Brasil, onde aportou em novembro de 1844 no Rio de Janeiro, logo dirigindo-se a Santos, onde permaneceu por quase três anos empregado como caixeiro em estabelecimento comercial cujo proprietário o designou para administrar a filial de Uberaba, onde chegou em 16 de setembro de 1847. Aqui se casou, teve três filhos e naturalizou-se, em 1851, cidadão brasileiro.

Borges Sampaio adquiriu justamente a primeira casa construída pelo major Eustáquio (onde morou de 1850 até seu falecimento, em 1908), na esquina da praça Rui Barbosa com rua Artur Machado, local em que hoje se encontra o hotel Monte Carlo. Em 1855, Borges Sampaio promoveu o recenseamento urbano da ainda vila e conseguiu, perante a Assembleia Legislativa Mineira, a elevação de Uberaba à categoria de cidade em 1856.

Exerceu inúmeras funções públicas, tais como inspetor de ensino, diretor da Escola Normal (hoje Marechal Castelo Branco) e professor. Foi também advogado provisionado, promotor público, contador e distribuidor. Na Guarda Nacional, chegou a tenente-cirurgião e tenente-coronel chefe do Estado Maior do Comando Superior de Uberaba e Prata. Ingressou no Partido Liberal em 1851, no qual foi um dos principais líderes. Foi vereador e prefeito (à época agente-executivo).

Chamado “gênio Alemão em Uberaba”, Frederico Maurício Draenert nasceu em Weimar, Alemanha, em 1838, formando-se em ciências físicas e naturais. Iniciou-se no magistério, lecionando em Macklenburg e Hamburgo. A convite do barão de Paraguaçu, então cônsul do Brasil nesta última cidade, veio para o Brasil em 1865 a fim de educar os filhos de rico agricultor baiano.

Por essa ocasião, ocorreu na Bahia uma moléstia na cana-de-açúcar, levando Draenert a estudar o fato e descobrir, em 1868, a existência de bactéria no reino vegetal, publicando suas conclusões no Jornal da Bahia e em outros periódicos nacionais e estrangeiros. Foi precursor do ensino agrícola superior no Brasil e pioneiro na climatologia.

Em 1896, Draenert preparou textos legais para a implantação do ensino agrícola no estado de Minas, a convite do governo estadual na época. Depois, dirigiu o Instituto Zootécnico de Uberaba, criado por lei do então deputado Alexandre Barbosa. Viveu turbulências políticas que culminaram na extinção do Instituto pelo governo de Minas, mas nem por isso interrompeu seus estudos de meteorologia e climatologia, seguindo tradição iniciada por des Genettes e Frei Eugênio.

Chamado de “O Historiador de Uberaba”, Hildebrando de Araújo Pontes nasceu em Jubaí, distrito de Conquista, em 1879, mudando-se com seus pais posteriormente para Uberaba. Formou-se engenheiro agrônomo em junho de 1898, ao lado de figuras como Fidélis Reis, José Maria dos Reis e Militino Pinto de Carvalho, entre outros. Integraram a única turma diplomada pelo Instituto Zootécnico de Uberaba, antes do fechamento deste por telegrama do governador de Minas, Silviano Brandão.

Enquanto prosseguia seus estudos, Hildebrando trabalhou como caixeiro e depois contador. Tão logo formado, iniciou a vida profissional, procedendo à medição de terras na região. Por motivo de saúde, deixou a profissão de engenheiroagrônomo, dedicando-se, a partir de 1920, ao magistério. Atuou como vereador ao lado de nomes como Felipe Aché e Silvério José Bernardes. Chegou a presidente da Câmara e agente-executivo (prefeito), quando atuavam como vereadores nomes como Fernando Sabino de Freitas, José Maria dos Reis, Jaime Soares Bilharinho, Manuel Borges de Araújo, Diocleciano Vieira e Lucas Borges de Araújo.

Além de sua autobiografia “Os Meus Cinquenta Anos (Vida, Casos e Perfis)”, editado em 1992 pelo Arquivo Público de Uberaba, Hildebrando Pontes foi colaborador de várias publicações, em Uberaba, outras cidades da região e em outros estados. Participou de expedição à Índia, em 1919, junto com diversos fazendeiros uberabenses, tentando adquirir reprodutores zebuínos. Morreu em novembro de 1940.

Mário de Ascenção Palmério, empresário, professor, escritor, político e embaixador, é um dos personagens mais interessantes da história de Uberaba. Palmério fez os estudos secundários nos colégios Marista Diocesano e Regina Pacis, de Araguari, concluídos em 1933. Cursou a escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro, foi bancário em São Paulo onde dedicou-se também ao magistério secundário e cursou Matemática na Universidade de São Paulo. Retornou a Uberaba no início dos anos 1940.

Após criar o Liceu do Triângulo Mineiro, entre os anos de 1947 e 1956 instalou as faculdades de Odontologia Direito e Engenharia e, na década de 1960, agregou mais cursos à grade da instituição, transformada posteriormente em Faculdades Integradas. Em 1950, Mário Palmério foi eleito deputado federal e cumpriu três mandatos pelo PTB, quando trabalhou intensamente pela criação da faculdade de Medicina e pela emancipação do Triângulo Mineiro.

No final dos anos 1970 muda-se para um casa-barco, onde permanece por nove anos. Nesse período, a então FIUBE foi dirigida pelo filho, Marcelo Palmério, que ampliou a instituição incorporado os cursos das Faculdades Integradas São Tomás de Aquino (Fista), das irmãs dominicanas. Em setembro de 1962, Mário Palmério foi nomeado pelo presidente João Goulart embaixador no Paraguai, posto que ocupou até abril de 1964. Em 22 de novembro de 1968, toma posse na Academia Brasileira de Letras, na cadeira anteriormente ocupada por João Guimarães Rosa. Em 1970, foi candidato a prefeito de Uberaba, mas não obteve êxito. Mário de Ascensão Palmério nasceu em Monte Carmelo, em 1916, e faleceu em Uberaba, em 1996.

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