Juros ajudam paralisar montadoras no Brasil
Nas últimas semanas, ao menos cinco montadoras anunciaram que concederiam férias coletivas aos funcionários e paralisariam a produção de veículos temporariamente em suas fábricas no Brasil: Volkswagen, Hyundai, Mercedes-Benz, General Motors e Stellantis, que reúne marcas como Fiat, Peugeot e Citröen. As paralisações, que abrangem diferentes períodos, começaram no fim de fevereiro e devem seguir até o começo de maio.
Os motivos alegados são diversos, indo desde a falta de componentes, agravada pela pandemia de covid-19, até problemas provocados pelo cenário econômico brasileiro, principalmente devido aos juros altos e à inflação, que diminuiu a demanda por veículos. Nesse contexto, as férias coletivas visam adequar a produção à demanda – ou, em outras palavras, evitar grandes estoques.
Embora as vendas de veículos tenham aumentado 13% em janeiro, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o crescimento foi menor que o esperado, e a demanda dá sinais de desaceleração para 2023.
Aumento de custos
Em entrevista à Agência Brasil na semana passada, o professor Antônio Jorge Martins, coordenador dos cursos automotivos da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), disse que as paralisações e as férias coletivas foram motivadas basicamente pelo aumento dos custos de produção – o que, como consequência, fez subir o preço dos veículos. Ao aumento dos custos das partes, peças e componentes, se somou a desvalorização cambial no Brasil e a alta dos custos de frete e logística, provocando o aumento do preço dos veículos.
Cenário econômico brasileiro
A alta dos preços dos veículos coincidiu com a alta taxa dos juros no país, que desencoraja financiamentos, culminando em um outro motivo para as paralisações da produção.
“A taxa de juros praticada pelo mercado financeiro também afetou a demanda de veículos”, explica Martins, destacando que de 60% a 70% das vendas são feitas por meio de financiamentos.
O ano de 2022 foi fortemente impactado pela alta do preço dos veículos, bem como pelo aumento da inadimplência e dos juros. A associação ressaltou que a inadimplência de pessoas físicas com pagamentos em atraso superior a 90 dias chegou a 5,9% em 2022, o maior índice dos últimos anos.
Quanto tempo devem durar as paralisações?
Para Martins, a paralisação da produção de veículos não deve se prolongar ou durar muito tempo. “A estratégia das montadoras não é ficar muito tempo parada. As que têm estoque vão parar um pouquinho mais. Aquelas que têm menor estoque param menos, mas a estratégia é realmente adequar a produção a uma nova realidade de demanda”, relata.
O professor estima que, neste ano, o setor automotivo feche com crescimento de entre 2% e 5% em relação ao ano passado.
le/ek (EBC, ots)
Fonte; https://www.dw.com/pt-br/por-que-muitas-montadoras-est%C3%A3o-concedendo-f%C3%A9rias-coletivas-no-brasil/a-65154326