‘Todos seriam infectados’, diz diretor da Codau após surto
Mesmo diante de dois surtos de COVID-19 em dois meses em um dos setores da Companhia Operacional de Desenvolvimento, Saneamento e Ações Urbanas (Codau) de Uberaba, no Triângulo Mineiro, um diretor criticou a atitude dos funcionários, que pediram uma paralisação e afirmou que “todos seriam infectados”.
A denúncia é do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Purificação e Distribuição de Água e Serviços de Esgoto de Uberaba (Sindae), que afirmou que, dos 35 servidores do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da Codau, 29 já se contaminaram. Nesse momento, 19 estão contaminados e, entre estes, há casos da doença agravada e uma pessoa intubada.
Diante disso, o Sindae garante que há descaso por parte da diretoria da Codau, que “não deu a devida importância no primeiro surto e, consequentemente, favoreceu a ocorrência de um segundo surto, em março, inclusive ao colocar servidores contaminados com não-contaminados”.
A diretoria do Sindae divulgou nota em repúdio à atitude de um diretor da CODAU que foi contra a paralisação de trabalhadores do SAC, localizado na avenida Leopoldino de Oliveira, onde ocorreu o surto de casos da COVID-19.
“O diretor chegou no local e se colocou contra a medida, afirmando que não havia sentido na paralisação e que ‘todos seriam, de uma maneira ou outra, infectados’ e que a Codau precisava dos serviços dos trabalhadores para honrar os compromissos, inclusive com a folha de pagamentos”, diz nota do Sindae.
Ainda de acordo com informações do sindicato, a diretoria foi avisada no dia 15 de fevereiro quanto ao primeiro surto da COVID-19 no SAC da Codau, sendo que no dia 16 de fevereiro, o presidente do Sindae Marcio Vaz e o tesoureiro Carlos Antônio Pereira estiveram às 6h no local conversando com os trabalhadores.
“Na ocasião, seguindo recomendação de um médico, colocamos a favor do fechamento do setor para desinfecção e acompanhamento de todos os servidores que tiveram contato com os contaminados, conforme prevê o protocolo sanitário estabelecido Organização Mundial de Saúde. No mesmo dia, às 6h45, um diretor chegou no local e, se colocou contra a medida”, diz trecho da nota do Sindae. Na época do primeiro surto da COVID no SAC, a diretoria do Sindae informou aos servidores que considerava a situação grave e, que se optassem por não trabalhar, que todos fossem para a casa, pois tomaria as medidas cabíveis e legais quanto a conduta deles. “Porém, todos seguiram a determinação do referido diretor, por medo de retaliações. Nesta ocasião, apenas leituristas se contaminaram.
Eram seis casos que se tornaram nove. Alguns se recuperaram e voltaram a trabalhar, até muito rápido, na nossa avaliação. Alguns se mostravam fracos, chegando até a cair na rua”, diz o sindicato. “Um novo surto foi constatado em março no SAC, praticamente um mês após o primeiro. Desta vez, muito mais agressivo, tendo em vista as variações do vírus em circulação. Agora são 19 contaminados e um aguardando resultado de exame. Reforçamos que desde o primeiro surto tivemos o cuidado de entrar em contato com a Vigilância Epidemiológica.
O Sindae enviou seis e-mails, apresentado todo o problema e não fomos sequer respondidos pelo órgão – algo que repudiamos”, segue a nota.
“Neste segundo surto, a contaminação atingiu leituristas e ainda atendentes e chefias. O problema recaiu na população, diante de leituras feitas por média e impressa de maneira não habitual”, completa a nota do Sindae Ainda conforma a nota do SINDAE, a sua assessoria jurídica está preparando uma representação para ser encaminhada ao Ministério Público, para a tomada de medidas legais cabíveis.
Resposta da CODAU
Segundo a direção da CODAU, mesmo com a pandemia da COVID-19, todas as suas atividades precisam continuar em operação para atender os requisitos da Constituição Federal, que as classifica como essenciais e indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. “No momento há 10 servidores afastados em tratamento.
Sobre o SAC especificamente, conforme acusa o SINDAE, várias foram às medidas tomadas: Fechamento da unidade para atendimento externo ao público; Adoção do teletrabalho, com envio inclusive de computadores para a casa dos servidores (mesma medida adotada para a sede administrativa da Companhia);
Para os leituristas que comparecem à unidade, alternância de horário tanto de entrada e saída, quanto no intervalo das refeições para diminuir o contato entre as equipes; Aumento em 100% de veículos mobilizados para o transporte deste pessoal, ampliação de cada viagem para os bairros para o transporte com número reduzidíssimo de leituristas; Tapetes sanitizantes para acessar o SAC e álcool 70% nos ambientes de trabalho; Ampliação dos espaços de trabalho com tendas externas visando o aumento do distanciamento e reforço à prevenção; Limpeza rotineira com desinfecção de mesas, cadeiras e outros objetos, bem como nos veículos usando solução oxidante produzida na Estação de Tratamento de Água da autarquia, seguindo recomendação da OMS, para descontaminação dos ambientes; Recepção de duas vistorias da Vigilância Sanitária nas dependências do SAC, para averiguação do desempenho das ações, não sendo encontrada nenhuma desconformidade em relação às medidas adotadas.
Apenas na última vistoria foi emitida a recomendação para inserção de máscaras cirúrgicas descartáveis, o que foi entregue de imediato; Disponibilização imediata de teste RT-PCR para qualquer sintoma suspeito. Além de contratação emergencial de mais um serviço laboratorial para realização de testes sorológicos para todo o quadro de servidores da Codau;
Em momento algum o Sindae procurou a direção para discutir tais medidas ou sugerir novas, apesar da direção ter aberto diálogo em reunião com a diretoria do Sindae, há duas semanas, para discutir campanha salarial/benefícios para a categoria”, diz nota da diretoria da CODAU, enviada por meio de sua assessoria de imprensa.
O presidente da CODAU, José Waldir de Sousa Filho, complementa que não é verdadeira a afirmação da diretoria do SINDAE sobre atitude de diretor da CODAU de que teria dito que a infecção por COVID dos trabalhadores do SAC aconteceria de uma maneira ou outra. “É irreal e delirante a afirmação de que a direção faria retaliações para quem não trabalhasse, ou que foi afirmado que a infecção de seu pessoal aconteceria. Todas as iniciativas até agora demonstram exatamente contrário do afirmado. A prática de opressão não é verdadeira e nunca será adotada por esta direção. Infelizmente o Sindicato optou por politizar a pandemia e este não é um caminho que será seguido pela direção da companhia. É de se estranhar muito esta denúncia, já que em ofício para a presidência, datado de 19.02.21, o Sindicato reconheceu e nos parabenizou pelas ações desenvolvidas no SAC. Enfim, queremos o bem estar, a saúde e a integridade de todos e essas são as metas nesta luta diária contra o Coronavírus aqui na Codau”, afirmou.