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Especial 203 anos: VELHO SEVERINO, AS PRIMEIRAS IMAGENS

Naquelas manhãs oitocentistas, enquanto os trabalhadores caminhavam para as roças, comerciantes abriam as portas e os primeiros burocratas mexiam em seus papéis, um solitário fotógrafo registrava as primeiras imagens da cidade de Uberaba. José Severino Soares percorreu os sertões e produziu um grande acervo de fotos que está hoje em poder do Arquivo Nacional e, em parte, do Arquivo Público de Uberaba e de alguns parentes. Ele, que foi dentista, ourives e vendedor de sal não se intimidava com as grandes distâncias que tinha que percorrer em lombo de burro ou mesmo a pé para cumprir sua jornada no interior de Mato Grosso, na cidade de Goiás e em viagens custosas até o Rio de Janeiro para aperfeiçoar sua arte, na época algo deslumbrante.

Além dele, outro pioneiro registrava as primeiras imagens da cidade. Era o genovês Luiz Bartholomeu Calagno, que inicialmente se estabeleceu em Ouro Preto e posteriormente mudou-se para Uberaba, em 1880, instalando a Photographia Central na praça da Matriz. Boa parte das fotos antigas de Uberaba pertencem aos dois pioneiros, gerando, em muitos casos, dificuldade em atribuir autoria a algumas dessas imagens. Mas enquanto Severino percorreu boa parte dos sertões registrando imagens, o genovês ficou mais restrito a Uberaba e fez algumas escalas até Patrocínio, Monte Alegre de Minas e Bom Despacho. A homenagem aos fotógrafos está no livro Uberaba 200 Anos, no Coração do Brasil, organizado por Marta Zednik, com a participação de inúmeros autores.

O jornalista e pesquisador Jorge Henrique Prata Soares, bisneto de José Severino, iniciou pesquisas para localizar parte do acervo do fotógrafo, que, entre as imagens mais importantes, traz a dos índios Bororos, foto que foi atribuída inicialmente a Marc Ferrez. Considerado o maior fotógrafo brasileiro do século XIX, Ferrez se notabilizou pelas paisagens do Rio de Janeiro e pela incursão no Brasil profundo. O livro iniciado por Jorge Henrique, que faleceu durante a produção, foi terminado pelo tio José Expedito Prata e traz textos, análises e quase uma centena de imagens feita pelo “Velho Severino”. Hoje, estas fotos oferecem rica fonte de pesquisa para estudiosos desvendarem o intrincado cotidiano do passado.

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