Xerife de bons costumes condena nudez artística
Uma família nua, pai, mãe e filho numa jaula, remete a significados que estão além da nudez, da visualização sexualizada que o moralismo religioso, muitas vezes, quer impregnar. A imagem, nada tem de inédita.
A exposição do artista plástico Ricardo Coelho, contratada por meio de edital da Fundação Cultural, motivou o presidente da Câmara de Uberaba, o evangélico Fernando Mendes, a assumir a condição de xerife dos bons costumes e ir ao local, exigir retirada dos quadros e ainda a abrir boletim de ocorrência.
“Meu Corpo, Minha Morada”, o nome da exposição aberta na última terça-feira, na Galeria de Arte Raquel Machado, na Fundação Cultural de Uberaba, entre vários quadros, dois expõem casal com dois filhos, um deles de colo, nus num ensaio feito onde o próprio artista e sua família protagonizam. Alegando que recebeu várias queixas de cidadãos, o presidente da Câmara, teria invadido o local “chutando a porta”, segundo Ricardo Coelho, e exigido a retirada dos quadros por, certamente, ofenderem a moral e os bons costumes.
O vereador Marcos Jammal, que é filho de artista plástico, visitou o espaço e, menos espantado do que Mendes, sugeriu que as obras fossem expostas em espaço que limitasse a entrada a pessoas maiores de 18 anos e abriu consulta nas redes sociais para ouvir a opinião de seguidores.
O site Boca no Trombone, mantido pelo vereador Túlio Micheli, registrou insatisfação também entre outros vereadores. Cássio Facury, presidente da Fundação Cultural, minimizou o fato dizendo que ao perceber a imagem entre as obras expostas, procurou o artista e fez ponderações compreendidas por ele.
Segundo ele, a exposição não havia sido aberta quando as imagens foram identificadas pela equipe da FCU. Ele afirma “que conversou com o artista que, após ouvir as ponderações, concordou em retirar os quadros da mostra.
É preciso também refletir que qualquer ação desenfreada ou abrupta da nossa parte poderia passar a falsa impressão de censura à arte, e isso jamais acontecerá na Fundação Cultural”. Mas, aconteceu!